Nelson Mandela

 Político


Nelson Mandela (1918-2013) foi presidente da África do Sul. Foi o líder do movimento contra o Apartheid - legislação que segregava os negros no país. Condenado em 1964 à prisão perpetua, foi libertado em 1990, depois de grande pressão internacional. Recebeu o “Prêmio Nobel da Paz”, em dezembro de 1993, pela sua luta contra o regime de segregação racial.

Infância e juventude

Nelson Mandela (1918-2013) nasceu em Mvezo, África do Sul, no dia 18 de julho de 1918. Filho em uma família de nobreza tribal, da etnia Xhosa, recebeu o nome de Rolihiahia Dalibhunga Mandela. Em 1925 ingressou na escola primária, onde recebeu da professora o nome de Nelson, em homenagem ao Almirante Horatio Nelson, seguindo um costume de dar nomes ingleses a todas as crianças que frequentavam a escola.

Com nove anos de idade, após a morte do seu pai, Mandela foi

levado para a vila real, onde ficou aos cuidados do regente do povo Tambu. Ao terminar sua formação elementar, Entrou na escola preparatória, Clarkebury Boarding Institute, um colégio exclusivo para negros, onde estudou a cultura ocidental. Em seguida, ingressou no Colégio Healdtown, onde era interno.

Em 1939, Mandela ingressou no curso de Direito, na Universidade de Fort Hare, a primeira Universidade da África do Sul a ministrar cursos para negros. Por se envolver em protestos, junto com o movimento estudantil, contra a falta de democracia racial na instituição, foi obrigado a abandonar o curso. Mudou-se para Joanesburgo, onde se deparou com o regime de terror imposto à maioria negra. Em 1943, concluiu o bacharelado em Artes pela Universidade da África do Sul. Continuou os estudos de Direito, por correspondência, na universidade de Fort Hare. (Mais tarde receberia o título de "Doutor Honoris Causa", na tentativa de compensar a sua expulsão).

A luta de Mandela contra as leis de Apartheid

Entre as heranças deixadas pelos colonizadores europeus na África, o mais brutal foi o racismo da África do Sul. Apoiados nas ideias de superioridade racial do branco, o homem europeu instituiu leis que sustentaram o regime de “apartheid” (separação) durante longos anos. Era proibido o casamento inter-racial, era obrigado o registro da raça na certidão, brancos e negros viviam em áreas separadas, onde as escolas, hospitais, praças etc. eram estabelecidos em locais distintos para as duas raças etc. A segregação racial, a falta de direitos políticos e civis e o confinamento dos negros, em regiões determinadas pelo governo branco, provocou uma série de massacres e mortes da população negra.

Muitos homens e mulheres da comunidade negra sul-africana dedicaram suas vidas a essa grande causa: o fim do apartheid. Um dos mais notáveis líderes do movimento negro da África do Sul foi Nelson Mandela. Em 1944, junto com Walter Sisulo e Oliver Tambo, fundou a Liga Jovem do Congresso Nacional Africano (CNA), que se tornou o principal instrumento de representação política dos negros.

Prisão de Mandela

Em 1960, diversos líderes negros foram perseguidos, presos, torturados, assassinados ou condenados. Entre eles estava Mandela, que em 1964 foi condenado à prisão perpétua. Na década de 80, intensificou-se a condenação internacional ao apartheid que culminou com um plebiscito que terminou com a aprovação do fim do regime. No dia 11 de fevereiro de 1990, depois de 26 anos, o presidente da África do Sul Frederik de Klerk, liberta Mandela.

Ao sair da prisão, Mandela faz um discurso chamando o país para a reconciliação: “Eu lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Eu tenho prezado pelo ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas possam viver juntas em harmonia e com iguais oportunidades. É um ideal pelo qual eu espero viver e que eu espero alcançar. Mas caso seja necessário, é um ideal pelo qual eu estou pronto para morrer”.

Em 1993, Nelson Mandela e o presidente assinam uma nova Constituição sul-africana, pondo fim a mais de 300 anos de dominação política da minoria branca, preparando a África do Sul para um regime de democracia multirracial. Nesse mesmo ano, recebem o Prêmio Nobel da Paz, pela luta em busca dos direitos civis e humanos no país.

Presidente da África do Sul

Após longas negociações, Mandela conseguiu a realização das eleições multirraciais em abril de 1994. Seu partido saiu vitorioso, e Mandela foi eleito presidente da África do Sul. Finalmente, seu governo, com maioria no parlamento, acabou com o longo período de opressão aprovando importantes leis em favor dos negros. Mandela governou até 1999, quando conseguiu eleger seu sucessor. Em 2006, foi premiado pela Anistia Internacional, por sua luta em favor dos direitos humanos.

Família

A única coisa que Nelson Mandela lamenta na vida é não ter passado mais tempo com os seus filhos, confessou em 2008, à CNN, Graça Machel, a sua terceira esposa. Numa rara entrevista, na altura dedicada aos seus dez anos de casamento, a ex-primeira dama de Moçambique, que quando casou com Mandela era já viúva de Samora, explicou que viver com o homem mais admirado do mundo era sinónimo de felicidade, conforto e paz. Ela foi a sua companheira de velhice, Evelyn e Winnie as mães dos seus filhos, as mulheres que com ele conviveram na luta pela liberdade na África do Sul. As três conheceram melhor do que ninguém o homem por detrás do político, do chefe do Estado, do Nobel da Paz, do ativista anti-Sida, enfim, o homem por detrás do mito.

Curiosamente, quando era novo, Nelson Rolihlhla Mandela não queria casar, de tal maneira que fugiu para Joanesburgo para escapar a uma união arranjada pelo tio. Tinha 22 anos e, na altura, em 1940, não pensava em assumir tal compromisso. Mas ao frequentar a casa do amigo e mentor Walter Sisulu, no Soweto, conheceu uma rapariga sossegada, bonita, uma enfermeira quatro anos mais nova do que ele. Era Evelyn Ntoko Mase, com quem daria o nó algum tempo mais tarde, apesar de nenhum dos dois ter dinheiro para pagar uma festa ou comprar uma casa. O casal teve quatro filhos, Maki, batizada com o nome da irmã falecida aos nove meses, Thembi, que perderia a vida num acidente de carro, em julho de 1969, mais Makgatho, que em janeiro de 2005 se tornou aos 54 anos mais uma das vítima do HIV-Sida a morrer na África do Sul.

Mandla Mandela, filho de Makgatho e neto de Mandela, foi em 2007 nomeado chefe do Conselho Tradicional de Mvezo, numa cerimónia no Grande Palácio de Mvezo, que é o local de origem do clã Madiba a que pertence Mandela. O histórico líder sul-africano tem, segundo o Nelson Mandela Centre of Memory, 17 netos e 13 bisnetos vivos, sendo que Zenani, de 13 anos, morreu em 2010 num acidente de carro, quando regressava de um concerto no âmbito do Campeonato Mundial de Futebol.

Mandela e Evelyn escolheram dedicar-se a causas diferentes quando as coisas começaram a correr mal, ele ao Congresso Nacional Africano, o ANC, ela ao Jeová. Ele passava muito tempo fora de casa, ela tinha que deixar os filhos com a avó, até que um dia decidiu dar-lhe a escolher entre a família ou a vida política. Ele optou pela segunda, o casal divorciou-se 13 anos após jurar amor eterno. "Eu dizia que estava a servir a Nação e ela respondia que Deus está acima da Nação. Homem e mulher que têm visões tão distintas do seu papel na vida não podem estar juntos", escreveu o histórico líder da luta anti-Apartheid na 'Longa Caminhada para a Liberdade', a autobiografia que começou a escrever na prisão em pedaços de papel higiénico que passava para o exterior.

Richard Stengel, editor da revista Time, que ajudou Mandela a escrever a autobiografia, confirma a versão do ex-chefe do Estado sul-africano no livro O Legado de Mandela: Quinze Lições de Vida, Amor e Coragem. "Teve algum êxito na adesão das massas para a causa mas não foi capaz de convencer a mulher. Evelyn não queria saber da política, converteu-se ao Jeová, passava os dias a ler a Bíblia".David James Smith, jornalista britânico e autor do livro O Jovem Mandela, publicado em 2010, surgiu no entanto como uma outra versão depois de investigar o passado do ex-líder do ANC: Mandela terá tido vários casos amorosos durante a sua juventude, alguns dos quais quando ainda se encontrava casado com Evelyn.

Smith baseia o início da sua argumentação numa frase que foi excluída da autobiografia A Longa Caminhada para a Liberdade. Mac Maharaj era segundo ele um dos prisioneiros responsáveis por garantir o sucesso do esquema que permitia a Mandela passar mensagens para o exterior. Num certo dia virou-se para o líder do ANC e disse-lhe que aquilo que ele estava a escrever era um mero instrumento político, que o homem e a pessoa não estavam ali refletidos e que ele deveria falar por exemplo da primeira mulher e do divórcio de ambos. Maharaj terá pedido a Walter Sisulu, um dos fiéis companheiros de luta de Mandela, que o convencesse a contar mais sobre si enquanto ser humano e, algumas noites mais tarde, recebeu uma nota a pedir que acrescentasse a seguinte frase na passagem em que fala do seu primeiro casamento: "E depois vivi uma vida totalmente imoral"

Smith, que acedeu a documentos e falou com vários amigos e familiares de Mandela, referiu no seu livro que pode ter havido traição entre Evelyn e o ex-líder do ANC.Ruth Mompati, ex-dactilógrafa do escritório de advogado que Mandela e Oliver Tambo abriram, em 1953, em Joanesburgo, terá sido uma das amantes do líder do ANC. Numa entrevista que deu a este jornalista de investigação há anos, não negou nem confirmou que tivesse existido esse tipo de relação entre ambos.

Evelyn terá confidenciado mesmo ao jornalista britânico Ferd Bridgland, especialista nessa zona do continente africano e autor da biografia de Jonas Savimbi, que chegou a ameaçar deitar água a ferver por cima da dactilógrafa caso ela voltasse a ir à casa deles. Esta ficava no número 8115 Ngakane Street, Orlando Ocidental, Soweto, tendo hoje em dia dado lugar a um museu sobre a família do Nobel da Paz.

Amina Cachalia, uma das mais antigas amigas de Mandela, disse a Smith: "Mesmo que eu pergunte ele nega e diz para não dizer disparates quando pergunto sobre Ruth". Esta ativista admite que ele gostava muito de mulheres e escolhia sempre as mais bonitas. Lilian Ngoyi, ex-membro da Liga das Mulheres do ANC, terá sido outras das amantes, tal como a atriz e cantora sul-africana Dolly Rathebe, contemporânea de Miriam Makeba.

O casamento acabou em 1958 e Evelyn viria a morrer em 2004. Winnie Madikizela, ao contrário de Evelyn, vinha de uma família importante. Quando conheceu o advogado e ativista Mandela, com 23 anos, tornara-se a única estudante negra de serviço social no hospital de Baragwanath. Ele via nela uma mulher apaixonada pela política e por ela própria enquanto pessoa individual. Tiveram duas filhas, Zenani e Zindzi, em 1959 e em 1960, que ela criou praticamente sozinha. Enquanto ele esteve preso, desde 1962 até 1990, ela desafiava o regime para o visitar. Mas com o tempo, as visitas e as cartas foram reduzidas, até quase não haver qualquer contacto, tendo ela sido presa, em 1967, em frente às filhas, ambas menores de dez anos. "Ao longo de meses não soube o que acontecera às minhas meninas e essa foi a maior tortura". Onde esteve presa, as mulheres estavam nuas, não tinham toalhas, não podiam limpar-se e quando estavam menstruadas o sangue escorria-lhes pelas pernas abaixo", contou a jornalista sul-africana Charlene Smith numa biografia que fez sobre Mandela.

Ao longo dos anos de luta Winnie emergiu como uma forte opositora do regime branco do apartheid mas, no final, quase que se autodestruiu. Formou a equipa de futebol Mandela, não para jogar à bola, mas para eliminar os opositores. Foi o que aconteceu com Stompie Seipei, um alegado informador de apenas 14 anos, que foi raptado e posteriormente morto, ao que tudo indica, sob as suas ordens. Isso mesmo admitiu um dos seus guarda-costas, em tribunal, algo que deixou o marido muito desiludido. Influência terá tido também a alegada descoberta de um caso amoroso que ela terá tido com Dali Mpofu, um advogado da sua equipa de defesa, mais novo do que ela, escreveram na década de 90 jornais como o Guardian e o Washington Post. Quando Mandela tomou posse na qualidade de primeiro presidente democraticamente eleito da África do Sul, em 1994, ela já não apareceu em público ao seu lado.

Resumo: Em 1944, Mandela casa-se com a enfermeira Evelyn Mase, com quem teve duas filhas e dois filhos. Em 1958 o casal se separa e nesse mesmo ano, casa-se com a militante antiapartheid, Winnie Madikizela, com quem teve duas filhas. Em 1995 o casal se separa. Em 1998, casa-se com Graça Machel. Em 1999, ao deixar a presidência, vai morar com Graça em seu pequeno vilarejo de Qunu, quando criam uma fundação em defesa dos direitos humanos.

Nelson Mandela faleceu em Joanesburgo, África do Sul, no dia 5 de dezembro de 2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário